Qual é a duração adequada da terapia?

Qual é a duração da terapia?

Escrevi este artigo porque, recentemente, venho recebendo muitas perguntas sobre a duração ideal de uma terapia, a frequência das sessões e se é possível alcançar resultados expressivos em um curto período de tempo.

Essas dúvidas geralmente surgem devido a limitações financeiras. Muitos planos de saúde impõem um número restrito de sessões anuais, o que faz com que os terapeutas busquem estratégias para otimizar o tratamento dentro desse limite, recorrendo a abordagens terapêuticas breves.

É fato que um ambiente terapêutico acolhedor, com escuta qualificada e feedback sobre as questões trazidas pelo cliente, pode aliviar a angústia logo nas primeiras sessões. Frequentemente, as pessoas relatam melhora significativa já no início da terapia. Isso é um excelente indicativo da eficácia da psicoterapia. Contudo, será que algumas sessões são suficientes? Quando analisamos essa questão sob a ótica de tratamentos focados em sintomas específicos, estudos mostram que intervenções breves podem ser muito eficazes. Ainda assim, para mudanças mais profundas e duradouras, um tratamento mais prolongado se torna indispensável.

Pesquisas sobre a eficácia da terapia de longo prazo

Um estudo realizado pela University of Pennsylvania acompanhou cerca de 4.000 pessoas ao longo de 25 anos e trouxe resultados fascinantes: a terapia necessita de tempo para alcançar efeitos transformadores. O estudo aponta que os primeiros benefícios começam a surgir em torno de seis meses de sessões regulares. Após um ano, os ganhos são mais perceptíveis, e, em três anos, os avanços são ainda mais robustos. Essa pesquisa demonstrou que quanto mais tempo o cliente permanece em terapia, maiores são os benefícios obtidos.

Os participantes relataram melhorias significativas na qualidade de vida e na capacidade de lidar com desafios diários, inclusive aqueles com condições emocionais mais graves. Entretanto, o estudo também observou uma piora nos resultados quando o tratamento foi interrompido ou reduzido devido a restrições impostas por planos de saúde. Esses dados indicam que é necessário repensar a limitação de sessões, considerando que tratamentos mais longos geram benefícios mais profundos.

É importante notar que muitas pesquisas em psicologia clínica são realizadas com número limitado de sessões – geralmente entre 8 e 12 – para avaliar a eficácia no alívio de sintomas específicos. Porém, terapias de longo prazo têm um alcance mais amplo: além de tratar os sintomas, elas promovem autoconhecimento e mudanças estruturais na personalidade, resultando em uma maturidade emocional maior.

Minha experiência prática

Com base na minha prática clínica, percebo que tratamentos curtos podem, de fato, estabilizar sintomas em um primeiro momento, mas deixam lacunas importantes. Por exemplo, um paciente com crises de ansiedade pode se sentir melhor após 12 sessões iniciais, mas, se o tratamento for interrompido, há um risco considerável de recaídas. Isso ocorre porque os sintomas geralmente estão conectados a causas mais profundas, como questões de autoestima ou traumas vivenciados na infância, que demandam mais tempo para serem elaborados.

É aqui que entra o conceito de neuroplasticidade. Assim como aprender uma nova habilidade exige prática e dedicação, transformar padrões emocionais e comportamentais também requer tempo. A terapia não apenas alivia sintomas, mas ajuda a reestruturar comportamentos, explorar emoções e desenvolver novos modos de pensar e agir.

O papel do terapeuta em tratamentos mais longos

Para que a terapia de longo prazo seja eficaz, é fundamental que o terapeuta estabeleça uma relação de confiança com o cliente, pratique uma escuta atenta e ofereça devolutivas que validem as experiências trazidas pelo paciente. Além disso, o terapeuta deve investir em sua própria terapia pessoal, para identificar e trabalhar possíveis padrões disfuncionais que poderiam interferir no processo terapêutico.

A questão da dependência terapêutica

Muitas pessoas temem que permanecer em terapia por muito tempo possa gerar dependência. No entanto, a duração do tratamento não é o fator determinante para isso. A dependência pode surgir em qualquer momento, especialmente se o terapeuta não estiver adequadamente preparado. Um bom profissional orienta o cliente a desenvolver autonomia, promovendo um processo terapêutico que fortaleça sua individualidade e capacidade de tomar decisões.

Conclusão

Seja com base em estudos científicos ou na prática clínica, podemos afirmar que a terapia de longo prazo oferece benefícios profundos e duradouros. Embora tratamentos breves possam ser eficazes para questões pontuais, investir em um processo terapêutico mais longo é uma oportunidade única de crescimento pessoal, com impacto positivo não apenas para o cliente, mas também para todos ao seu redor.

Referência bibliográfica:

Consumer Reports. (1995, November). Mental health: Does therapy help. Pp. 734-739.

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Daniel Mazzo

Psicólogo & Palestrante 

 CRP:06/13958

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